Um risco dourado atravessa o jardim e desaparece na escuridão. Zunidos de insetos me aguçam os tímpanos. Ouço pios de um pássaro que soam como choro de um filhote abandonado. Um par de asas esvoaça num giro de cento e oitenta graus e se esconde no velho pé de Uvaia. Me esquivo do vai-e-vem de uma mariposa que me assedia querendo tocar o meu rosto.
Bem mais adiante lumem como pisca-piscas os aviões que ainda pousam e decolam. Já me acostumei com o movimento do aeroporto e o ruído é quase imperceptível devido a rota paralela com o local onde moro. A iluminação mais intensa sobre o lado direito da pista sempre traz na memória o dia fatídico: a queda do avião seguido de forte explosão e um imenso fogaréu com grandes nuvens de fumaça subindo ao céu.
Me encanta muito mais a luz do dia. Sabiás, cambacicas, pardais, bem-te-vis , periquitos e outros pássaros aparecem no meu jardim atraídos pelas árvores. Entre a laranjeira, o romanzeiro e a pitangueira, disputam o pequeno espaço os camarões amarelos, as rosas e as belas- emílias que floreiam o ano todo. Alguns trevos de quatro folhas entremeados de morangos silvestres apareceram no cercado.
Uma chuva intermitente fez desabrochar no chão muitas flores com lindas pétalas pintadas em degradê.
No aeroporto que finalmente dormita, os seus refletores me despertam dos devaneios do dia. Os raios de luz chegam até o atelier para sinalizar que é hora de recolher. O lamento do pássaro agora também silencia, mas os zunidos dos insetos prosseguem até o amanhecer.
Agradeço aos amigos que me enviaram os haikais dos bichanos queridos que enriqueceram esta postagem.